poema


Abismo


Fernando Pessoa







Olho o Tejo,

 e de tal arte

 Que me esquece olhar olhando,

 E súbito isto me bate 

 De encontro ao devaneando — 

 O que é sério, e

 correr?

 O que é está-lo eu a ver?

 Sinto de repente pouco,

 Vácuo,

o momento,

 o lugar.

 Tudo de repente é oco — 

 Mesmo o meu estar a pensar. 

 Tudo —

 eu e o mundo em redor

 — Fica mais que exterior.

 Perde tudo o ser,
 ficar, 

 E do pensar se me some. 

 Fico sem poder ligar

 Ser ideia,

alma de nome

 A mim, à terra e aos céus...

 E súbito encontro Deus.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Desbravadores: Livro de Atas

livre-se das baratas

Esta vida - poema