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Mostrando postagens com o rótulo poesia

A educação pela pedra

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Uma educação pela pedra: por lições; para aprender da pedra, freqüentá-la; captar sua voz inenfática, impessoal (pela de dicção ela começa as aulas). A lição de moral, sua resistência fria ao que flui e a fluir, a ser maleada; a de economia, seu adensar-se compacta: lições de pedra (de fora para dentro, cartilha muda), para quem soletrá-la. Outra educação pela pedra: no Sertão (de dentro para fora, e pré-didática). No Sertão a pedra não sabe lecionar, e se lecionasse não ensinaria nada; lá não se aprende a pedra: lá a pedra, uma pedra de nascença, entranha a alma. João Cabral de Melo Neto

Poema

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nunca cometo o mesmo erro duas vezes já cometo duas três quatro cinco seis até esse erro aprender que só o erro tem vez Paulo Leminski

Adélia Prado – Poemas

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AMOR FEINHO Eu quero amor feinho. Amor feinho não olha um pro outro. Uma vez encontrado é igual fé, não teologa mais. Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo e filhos tem os quantos haja. Tudo que não fala, faz. Planta beijo de três cores ao redor da casa e saudade roxa e branca, da comum e da dobrada. Amor feinho é bom porque não fica velho. Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é: eu sou homem você é mulher. Amor feinho não tem ilusão, o que ele tem é esperança: eu quero um amor feinho. Adélia Prado 

Poema que aconteceu

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Nenhum desejo neste domingo nenhum problema nesta vida o mundo parou de repente os homens ficaram calados domingo sem fim nem começo. A mão que escreve este poema não sabe o que está escrevendo mas é possível que se soubesse nem ligasse. Carlos Drummond de Andrade  

poesia: casamento

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Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil" "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva. Texto extraído do livro " Adélia Prado - Poesia Reunida ", Ed. Siciliano - São Paulo, 1991, pág. 252.

William Shakespear- O amor

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~ Soneto 18 ~ Se te comparo a um dia de verão És por certo mais belo e mais ameno O vento espalha as folhas pelo chão E o tempo do verão é bem pequeno. Às vezes brilha o Sol em demasia Outras vezes desmaia com frieza; O que é belo declina num só dia, Na terna mutação da natureza. Mas em ti o verão será eterno, E a beleza que tens não perderás; Nem chegarás da morte ao triste inverno: Nestas linhas com o tempo crescerás. E enquanto nesta terra houver um ser, Meus versos vivos te farão viver. William Shakespeare

Uirapuru

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O poema sinfônico de Villa-Lobos e os índios  Uirapuru Heitor Villa-Lobos: A despeito de certa influência da música francesa, o "Uirapuru" é das primeiras obras-primas de Villa-Lobos, e dá início a uma linguagem orquestral tipicamente villalobiana. A partitura retrata o ambiente da selva brasileira e seus habitantes naturais - os índios -, com uma impressionante riqueza de detalhes. Aqui, ouviremos o tema que serviu de base para esse poema sinfônico: o canto do uirapuru, pássaro que, dentro da mitologia indígena, representa o rei do amor.  www.museuvillalobos.org.br/mvl7.htm

As Borboletas

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Brancas,Azuis,Amarelas E pretas Brincam Na luz As belas Borboletas Borboletas brancas São alegres e francas. Borboletas azuis Gostam muito de luz. As amarelinhas São tão bonitinhas! E as pretas, então . . . Oh, que escuridão! Brancas,Azuis,Amarelas E pretas Brincam Na luz As belas Borboletas Borboletas brancas São alegres e francas. Borboletas azuis Gostam muito de luz. As amarelinhas São tão bonitinhas! E as pretas, então . . . Oh, que escuridão! Cecília Meirelles

Jardins Proibidos

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Quando amanheces, logo no ar, Se agita a luz sem querer, E mesmo o dia, vem devagar, Para te ver. E já rendido, ver-te chegar, Desse outro mundo só teu, Onde eu queria, entrar um dia, P'ra me perder. P'ra me perder, nesses recantos Onde tu andas, sozinha sem mim, Ardo em ciúme, desse jardim, Onde só vai quem tu quiseres, Onde és senhora do tempo sem fim, Por minha cruz, jóia de luz, Entre as mulheres. Quebra-se o tempo, em teu olhar, Nesse gesto sem pudor, Rasga-se o céu, e lá vou eu, P'ra me perder. P'ra me perder, nesses recantos Onde tu andas, sozinha sem mim, Ardo em ciúme, desse jardim, Onde só vai quem tu quiseres, Onde és senhora do tempo sem fim, Por minha cruz, jóia de luz P'ra me perder, nesses recantos Onde tu andas, sozinha sem mim, Ardo em ciúme, desse jardim, Onde só vai quem tu quiseres, Onde és senhora do tempo sem fim, Por minha cruz, jóia de luz Entre as mulheres Olavo Bilac

Dialética

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É claro que a vida é boa E a alegria, a única indizível emoção É claro que te acho linda Em ti bendigo o amor das coisas simples É claro que te amo E tenho tudo para ser feliz Mas acontece que eu sou triste... Vinícius de Moraes

Fernando Pessoa - poema

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ANIVERSÁRIO No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu era feliz e ninguém estava morto. Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos, E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer. No tempo em que festejavam o dia dos meus anos, Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma, De ser inteligente para entre a família, E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim. Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças. Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo, O que fui de coração e parentesco. O que fui de serões de meia-província, O que fui de amarem-me e eu ser menino, O que fui --- ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui... A que distância!... (Nem o acho...) O tempo em que festejavam o dia dos meus anos! O que eu sou hoje é como a umidade no corredor do fim da casa, Pondo grelado nas paredes... O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram t...

Amizade

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A amizade consegue ser tão complexa...  Deixa uns desanimados, outros bem felizes...  É a alimentação dos fracos  É o reino dos fortes  Faz-nos cometer erros  Os fracos deixam se ir abaixo  Os fortes erguem sempre a cabeça  os assim assim assumem-os  Sem pensar conquistamos  O mundo geral  e construímos o nosso pequeno lugar  deixando brilhar cada estrelinha  Estrelinhas...  Doces, sensíveis, frias, ternurentas...  Mas sempre presentes em qualquer parte  Os donos da Amizade... Desconhecido

poema de amor

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Não sei nem mais dizer O que sinto por você... Se é amor...  Se é amizade...  Se é paixão... Mas suspeito fortemente  Que seja tudo isso junto! Augusto Branco

Para Sempre

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Por que Deus permite que as mães vão-se embora? Mãe não tem limite, é tempo sem hora, luz que não apaga quando sopra o vento e chuva desaba, veludo escondido na pele enrugada, água pura, ar puro, puro pensamento.   Morrer acontece com o que é breve e passa sem deixar vestígio. Mãe, na sua graça, é eternidade. Por que Deus se lembra - mistério profundo - de tirá-la um dia? Fosse eu Rei do Mundo, baixava uma lei: Mãe não morre nunca, mãe ficará sempre junto de seu filho e ele, velho embora, será pequenino feito grão de milho. Carlos Drummond de Andrade

Caderno de poesias

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Caderno de poesias é um belo lugar. Tantas coisas lindas que eu gostaria de falar. Eu falo em forma de versos para todos poderem escutar. Agora você já sabe por que os poetas passam os dias escrevendo em seus cadernos de poesias. Clarice Pacheco

Poema da Curva

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Não é o ângulo reto que me atrai,  nem a linha reta,  dura,  inflexível, criada pelo homem.  O que me atrai é a curva livre e sensual,  a curva que encontro nas montanhas do meu país,  no curso sinuoso dos seus rios,  nas ondas do mar,  no corpo da mulher preferida.  De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein. (Niemeyer, Oscar, 2000, As Curvas do Tempo: as memórias de Oscar Niemeyer. Londres: Phaidon, ps. 169 e 70)

Inefável

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Nada há que me domine e que me vença  Quando a minha alma mudamente acorda...  Ela rebenta em flor, ela transborda  Nos alvoroços da emoção imensa.  Sou como um Réu de celestial sentença,  Condenado do Amor, que se recorda  Do Amor e sempre no Silêncio borda  De estrelas todo o céu em que erra e pensa.  Claros, meus olhos tornam-se mais claros  E tudo vejo dos encantos raros  E de outras mais serenas madrugadas!  Todas as vozes que procuro e chamo  Ouço-as dentro de mim porque eu as amo  Na minha alma volteando arrebatadas Cruz e Souza

poema de Drummond

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Acordar, viver Como acordar sem sofrimento? Recomeçar sem horror? O sono transportou-me àquele reino onde não existe vida e eu quedo inerte sem paixão. Como repetir, dia seguinte após dia seguinte, a fábula inconclusa, suportar a semelhança das coisas ásperas de amanhã com as coisas ásperas de hoje? Como proteger-me das feridas que rasga em mim o acontecimento, qualquer acontecimento que lembra a Terra e sua púrpura demente? E mais aquela ferida que me inflijo a cada hora, algoz do inocente que não sou? Ninguém responde, a vida é pétrea.         

poema: O verdadeiro amigo

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Compreenda. Releve. Nunca abandone  o verdadeiro amigo. Ele pode nem estar  ao seu lado agora. Mas certamente, estará sempre contigo. Clarice Pacheco

O Amor no Éter

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Há dentro de mim uma paisagem entre meio-dia e duas horas da tarde. Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água, entram e não neste lugar de memória, uma lagoa rasa com caniço na margem. Habito nele, quando os desejos do corpo, a metafísica, exclamam: como és bonito! Quero escrever-te até encontrar onde segregas tanto sentimento. Pensas em mim, teu meio-riso secreto atravessa mar e montanha, me sobressalta em arrepios, o amor sobre o natural. O corpo é leve como a alma, os minerais voam como borboletas. Tudo deste lugar entre meio-dia e duas horas da tarde. Adélia Prado