poema
" Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti ?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esquecer
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu ?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, tacicurno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma voz matinal palpitando na bruma
e que arranque de alguém seu mais secreto espinho.
De tudo quanto foi meu passo caprichoso
na vida, restará, pois o resto se esfuma,
uma pedra qua havia em meio do caminho".
Carlos Drummond de Andrade.
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