poema



DESTRUIÇÃO

















Os amantes se amam cruelmente 
e com se amarem tanto não se vêem.
 Um se beija no outro, refletido.
 Dois amantes que são? Dois inimigos. 

 Amantes são meninos estragados 
pelo mimo de amar: e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se, 
e como o que era mundo volve a nada. 

 Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra 
se imprime na lembrança de seu trilho. 

 E eles quedam mordidos para sempre.
deixaram de existir, mas o existido 
continua a doer eternamente.



Carlos Drummond de Andrade

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